A segurança do alimento é a garantia que o consumidor tem em adquirir um alimento de qualidade e que não ofereça riscos à saúde. Esta segurança pode ser fiscalizada por meio de programas de monitoramento de resíduos de agrotóxicos.
Atualmente a agricultura é um setor com crescimento constante, onde ocorre o desenvolvimento de novas tecnologias e elevadas pesquisas agronômicas, principalmente no que diz respeito ao uso de insumos, como fertilizantes e agrotóxicos.
O mercado de agroquímicos é responsável pela movimentação de bilhões de dólares em todo o mundo. Seu uso teve início durante a Segunda Guerra Mundial com a descoberta de que o diclorodifeniltricloroetano tinha potencial de controlar a contaminação por tifo, demonstrando em seguida a grande capacidade pesticida dos organoclorados. No entanto, o entusiasmo em relação a esse produto começou a diminuir quando foi observado que os insetos começaram a desenvolver resistência a eles.
Os insumos agrícolas se mostraram fundamentais para o avanço do agronegócio no mundo, entretanto sua má utilização pode acarretar em riscos ao meio ambiente e à saúde humana. O excesso de aplicações, manejo inadequado e o descarte impróprio de embalagens podem resultar na contaminação do solo, da água e dos alimentos por resíduos de agrotóxicos.
Os problemas advindos dos agrotóxicos à saúde humana podem ser de caráter crônico ou imediato, podendo provocar náuseas, vômito e tonturas. Quando a longo prazo, podem resultar em problemas crônicos a depender do princípio ativo, sendo ele carcinogênico ou não. Com base nisso foi definida a Ingestão Diária Aceitável (IDA), sendo ela um parâmetro de segurança baseado na quantidade máxima de agrotóxicos que podemos ingerir por dia.
A preocupação com a presença de agrotóxicos nos alimentos é recorrente, sendo ela tão antiga quanto a utilização destes produtos. Apesar disso, apenas há poucas décadas o avanço do conhecimento e tecnologia nos permitiu realizar a avaliação da qualidade dos alimentos que chegam às nossas mesas.
Com o intuito de monitorar as contaminações de produtos alimentícios, o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, coordenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), idealizou em 2001, um projeto para avaliar a segurança dos alimentos. Em 2003 o projeto se tornou um programa, o PARA, Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos. Desde sua criação, o programa já analisou mais de 35 mil amostras de 28 tipos de alimentos.
Além do PARA, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) idealizou o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (RAMA). Este, por sua vez, tem como objetivo atender à crescente necessidade de monitoramento dos alimentos, sendo a análise de resíduos de agrotóxicos em frutas, legumes e verduras (FLV) o ponto de partida para isso.
A iniciativa tem contribuído para o fortalecimento da cadeia produtiva de alimentos, incentivando a transparência e a responsabilidade por parte dos produtores e fornecedores. Com a adesão voluntária ao programa, as empresas demonstram seu comprometimento com a oferta de alimentos mais seguros e de qualidade aos consumidores, além de colaborarem para a construção de um setor alimentício mais sustentável e responsável.
O ramo do monitoramento de alimentos desempenha um papel crucial na garantia da segurança e qualidade dos produtos disponibilizados aos consumidores finais. Trata-se também de uma ferramenta essencial no planejamento e execução de ações da vigilância sanitária, assegurando que os alimentos atendam aos padrões exigidos dentro do país.
O monitoramento de alimentos envolve a coleta sistemática e a análise regular de amostras, abrangendo diversos aspectos, como a presença de micro-organismos patogênicos, resíduos químicos, contaminações biológicas, físicas e químicas. Essa abordagem abrangente permite identificar potenciais riscos à saúde dos consumidores e contribui para a prevenção de surtos de doenças transmitidas por alimentos.
A avaliação da segurança dos alimentos no processo de monitoramento também inclui a verificação do cumprimento de normas e regulamentações específicas do setor alimentício. Isso abrange desde boas práticas de fabricação até o controle de qualidade nos diferentes estágios da cadeia produtiva, incluindo produção, transporte, armazenamento e comercialização.
Em resumo, a segurança alimentar, como principal preocupação, reflete o empenho em adquirir produtos de qualidade, que garantam a ausência de riscos para a saúde dos consumidores. Nesse sentido, o monitoramento dos resíduos de agrotóxicos desempenha um papel crucial, sendo uma prática essencial para avaliar e reduzir os possíveis impactos adversos decorrentes do uso inadequado desses insumos na agricultura. A busca pela segurança do alimento é, portanto, intrinsecamente ligada à garantia de produtos que atendam aos mais elevados padrões de qualidade, promovendo a confiança dos consumidores e a preservação da saúde pública.
Referências
STOPPELLI, Illona Maria de Brito Sá; MAGALHÃES, Cláudio Picanço. Saúde e segurança alimentar: a questão dos agrotóxicos. Ciência & Saúde Coletiva, [S.L.], v. 10, n. , p. 91-100, dez. 2005. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-81232005000500012.
FERREIRA, Verona Borges; SILVA, Thadia Turon Costa da; GARCIA, Silvia Regina Magalhães Couto; SRUR, Armando Ubirajara Oliveira Sabaa. Estimativa de ingestão de agrotóxicos organofosforados pelo consumo de frutas e hortaliças. Cadernos Saúde Coletiva, [S.L.], v. 26, n. 2, p. 216-221, jun. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201800020095.
MACHADO, Matheus Vieira; BURBARELLI, Maria Fernanda de Castro; GARCIA, Rodrigo Garófallo; BINOTTO, Erlaine; BORGES, Hagar Gonçalves. Segurança alimentar e liberalização comercial do mercado de alimentos: uma revisão sistemática. Revista de Economia e Sociologia Rural, [S.L.], v. 61, n. 3, p. 1-19, mar. 2023. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1806-9479.2022.256624.
ANVISA -. Agrotóxicos em alimentos. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/perguntasfrequentes/agrotoxicos/agrotoxicos-em-alimentos#:~:text=A%20Ingest%C3%A3o%20Di%C3%A1ria%20Aceit%C3%A1vel%20. Acesso em: 08 dez. 2023.